segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fragilidades (...)



Hoje vou dormir de estores abertos, nunca o faço, a clareza traz-me desalento e não consigo dormir mas … hoje vou deixa-los abertos, na expectativa que o nascer do sol ao entrar-me pelo quarto a dentro me traga algo de positivo ao dia de amanhã, já que o de hoje foi para olvidar. Sinto-me fraca, sinto-me débil e com a força a desvanecer, estou frágil… Já sinto a saudade do que foi tão escasso, mas tão veemente.
Os meus sentimentos continuam a deambular por uma estrada que é incerta, não sei como os fazer estacar, nem sei se tenho a força suficiente para tal, mas continuo a crer em mim, no meu ser, e na força que não avisto e penso não ter neste instante.
Agora, nada oiço, sobrevive o abafo da noite que me vai envolver até o dia dimanar, enquanto isso, fico só eu, eu e os meus pensamentos mais penetrantes, aqueles que persistem em ficar e não partir. O controlo que cogitava ter sobre mim ausentou-se, escondeu-se do meu campo de visão, não o consigo alcançar, resta-me esperar que surja, agarra-lo com toda a energia e manter-me assim. Que saudades do que foi e já não é, saudades do que talvez não vá ser mais... Envolto nisto, fica o medo, o medo de não mais resgatar o que passou, medo de um fim numa historia que só teve principio… Quero viver o meio, não quero deixar passar tal, não quero ficar sem o meu ‘meio’ da historia, aquele onde eram debruçadas as maiores expectativas de uma felicidade genuína.Contemplo a janela novamente, o sol ainda não quis figurar, a neblina cobre todo o céu, formando uma fumaça que corre pela atmosfera, não encontro a lua… ela que escuta sempre os meus pensamentos mais cavados, e ocultos, nas noites em que a melancolia se apodera de mim e me deixa sem certezas do que é autêntico ou desacertado.
O aperto no peito insiste em permanecer, torna-se agonizante o sentimento de debilidade em que me defronto. Por detrás de sorrisos e gestos fáceis, encubro tudo aquilo que me atinge a alma, tudo aquilo que faz de mim um ser delicado e sem vida.
Parei e observei a minha mão, nesse ápice revivi um momento que me vai ser difícil esquecer, o momento em que a existência de dois corpos distintos acabara e, por meros segundos, evidenciou-se tudo num só corpo, era a minha mão na tua.
Os momentos passam, as lembranças perduram, a realidade magoa mas elucida-nos, os sonhos consolam mas sustentam a expectativa (…) mas, é tão bom sonhar.
Não quero saber do que foi, não quero viver passados, nem futuros, quero o meu presente bem consolidado na minha realidade, quero os meus pés bem assentes na terra a emergir uma força tal, que ninguém me consiga tirar o chão.
Mais um cigarro (…) mais um que não devia ter fumado, mais uma palavra que não devia ter pronunciado. Vou deixar que o fumo do cigarro se aglomere com o dos meus pensamentos (…) Hoje vou deixar-me ficar.Hoje vou sonhar contigo.



Marta Branco
05h11
27.06.10